domingo, 12 de julho de 2009


GUIA PRÁTICO DA
NOVA ORTOGRAFIA
Saiba o que mudou na ortografi a brasileira Douglas Tufano
Guia Reforma Ortografica uia CP.indd 1 10/7/2008 14:27:21
© 2008 Douglas Tufano Professor e autor de livros didáticos de língua portuguesa
© 2008 Editora Melhoramentos Ltda. Diagramação: WAP Studio ISBN: 978-85-06-05464-2
1.ª edição, agosto de 2008 Atendimento ao consumidor:
Caixa Postal 11541 – CEP 05049-970 São Paulo – SP – Brasil Impresso no Brasil
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Acordo Ortográfico O objetivo deste guia é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na ortografi a da língua portuguesa pelo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995. Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da
língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográfi cas observadas Guia Reforma Ortografica uia CP.indd 3 10/7/2008 14:27:22 4 DOUGLAS TUFANO nos países que têm a língua portuguesa como idioma ofi cial, mas é um passo em direção à pretendida unifi cação
ortográfi ca desses países. Como o documento ofi cial do Acordo não é claro em vários aspectos, elaboramos um roteiro com o que foi possível estabelecer objetivamente sobre as novas regras. Esperamos que este guia sirva de orientação básica para aqueles que desejam resolver rapidamente suas dúvidas sobre as mudanças introduzidas na ortografi a brasileira, sem preocupação com questões teóricas.
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GUIA PRÁTICO DA NOVA ORTOGRAFIA

Mudanças no alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser:
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V WX Y Z
As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas em várias situações. Por exemplo:
a) na escrita de símbolos de unidades
de medida: km (quilômetro), kg (quilograma),
W (watt);

b) na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show,
playboy, playground, windsurf, kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.

Trema
Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui.
Como era Como fica
agüentar aguentar
argüir arguir
bilíngüe bilíngue
cinqüenta cinquenta
delinqüente delinquente
eloqüente eloquente
ensangüentado ensanguentado
eqüestre equestre
freqüente frequente
lingüeta lingueta
lingüiça linguiça
qüinqüênio quinquênio
sagüi sagui
seqüência sequência
seqüestro sequestro
tranqüilo tranquilo
Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas.
Exemplos: Müller, mülleriano.


Mudanças nas regras de acentuação
1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).
Como era Como fica
alcalóide alcaloide
alcatéia alcateia
andróide androide
apóia (verbo apoiar) apoia
apóio (verbo apoiar) apoio
asteróide asteroide
bóia boia
celulóide celuloide
clarabóia claraboia
colméia colmeia
Coréia Coreia
debilóide debiloide
epopéia epopeia
estóico estoico
estréia estreia
estréio (verbo estrear) estreio
geléia geleia
heróico heroico
idéia ideia
jibóia jiboia
jóia joia
odisséia odisseia
paranóia paranoia
paranóico paranoico
platéia plateia
tramóia tramoia

Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras terminadas em éis, éu, éus, ói, óis.
Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.
2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.
Como era Como fica
baiúca baiuca
bocaiúva bocaiuva
cauíla cauila
feiúra feiura

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição fi nal (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí.

3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).
Como era Como fica
abençôo abençoo
crêem (verbo crer) creem
dêem (verbo dar) deem
dôo (verbo doar) doo
enjôo enjoo
lêem (verbo ler) leem
magôo (verbo magoar) magoo
perdôo (verbo perdoar) perdoo
povôo (verbo povoar) povoo
vêem (verbo ver) veem
vôos voos
zôo zoo

4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pel(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
Como era Como fica
Ele pára o carro. Ele para o carro.
Ele foi ao pólo Norte. Ele foi ao polo Norte.
Ele gosta de jogar pólo. Ele gosta de jogar polo.
Esse gato tem pêlos brancos. Esse gato tem pelos brancos.
Comi uma pêra. Comi uma pera.

Atenção:
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder(pretérito perfeito do indicativo), na 3a pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3a pessoa do singular.
Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.

• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é prepo sição.
Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos:
Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros.
Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba.
Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.
Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes.
Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.
Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/ fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

5. Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.

6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar equir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo.
Veja:
a) se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas.
Exemplos:
• verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem.
• verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquam.

b) se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas. Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras):
• verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.
• verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.

Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela com a e i tônicos.
Uso do hífen

Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. Mas, como se trata ainda de matéria controvertida em muitos aspectos, para facilitar a compreensão dos leitores, um resumo das regras que orientam o uso do hífen com os prefixos mais comuns, assim como as novas orientações estabelecidas pelo Acordo. As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefi xos ou por elementos que podem funcionar como prefi xos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice etc.

1. Com prefi xos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h.
Exemplos:
anti-higiênico
anti-histórico
co-herdeiro
macro-história
mini-hotel
proto-história
sobre-humano
super-homem
ultra-humano
Exceção: subumano (nesse caso, a palavra humano perde o h).

2. Não se usa o hífen quando o prefi - xo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento.
Exemplos:
aeroespacial
agroindustrial
anteontem
antiaéreo
antieducativo
autoaprendizagem
autoescola
autoestrada
autoinstrução
coautor
coedição
extraescolar
infraestrutura
plurianual
semiaberto
semianalfabeto
semiesférico
semiopaco
Exceção: o prefi xo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.

3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s.
Exemplos:
anteprojeto
antipedagógico
autopeça
autoproteção
coprodução
geopolítica
microcomputador
pseudoprofessor
semicírculo
semideus
seminovo
ultramoderno
Atenção: com o prefi xo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante etc.

4. Não se usa o hífen quando o prefi - xo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos:
antirrábico
antirracismo
antirreligioso
antirrugas
antissocial
biorritmo
contrarregra
contrassenso
cosseno
infrassom
microssistema
minissaia
multissecular
neorrealismo
neossimbolista
semirreta
ultrarresistente.
ultrassom

5. Quando o prefi xo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal.
Exemplos:
anti-ibérico
anti-imperialista
anti-infl acionário
anti-infl amatório
auto-observação
contra-almirante
contra-atacar
contra-ataque
micro-ondas
micro-ônibus
semi-internato
semi-interno

6. Quando o prefi xo termina por consoante,
usa-se o hífen se o segundo
elemento começar pela mesma consoante.
Exemplos:
hiper-requintado
inter-racial
inter-regional
sub-bibliotecário
super-racista
super-reacionário
super-resistente
super-romântico
Atenção:
• Nos demais casos não se usa o hífen.
Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção.
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça etc.
• Com os prefi xos circum e pan, usase o hífen diante de palavra iniciada m, n e vogal: circum -navegação, pan-americano etc.

7. Quando o prefi xo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal.
Exemplos:
hiperacidez
hiperativo
interescolar
interestadual
interestelar
interestudantil
superamigo
superaquecimento
supereconômico
superexigente
superinteressante
superotimismo

8. Com os prefi xos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen. Exemplos:
além-mar
além-túmulo
aquém-mar
ex-aluno
ex-diretor
ex-hospedeiro
ex-prefeito
ex-presidente
pós-graduação
pré-história
pré-vestibular
pró-europeu
recém-casado
recém-nascido
sem-terra

9. Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim.
Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

10. Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente
combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares.
Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

11. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição.
Exemplos:
girassol
madressilva
mandachuva
paraquedas
paraquedista
pontapé

12. Para clareza gráfi ca, se no fi nal da linha a partição de uma palavra ou combinação depalavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos:
Na cidade, conta-
-se que ele foi viajar.
O diretor recebeu os ex-
-alunos.

Resumo
Emprego do hífen com prefixos
Regra básica
Sempre se usa o hífen diante de h:
anti-higiênico, super-homem.
Outros casos
1. Prefi xo terminado em vogal:
• Sem hífen diante de vogal diferente:
autoescola, antiaéreo.
• Sem hífen diante de consoante diferente de r
e s: anteprojeto, semicírculo.
• Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas
letras: antirracismo, antissocial, ultrassom.
• Com hífen diante de mesma vogal:
contra-ataque, micro-ondas.
2. Prefi xo terminado em consoante:
• Com hífen diante de mesma consoante:
inter-regional, sub-bibliotecário.
• Sem hífen diante de consoante diferente:
intermunicipal, supersônico.
• Sem hífen diante de vogal: interestadual,
superinteressante.

Observações
1. Com o prefi xo sub, usa-se o hífen também
diante de palavra iniciada por r sub-região,
sub-raça etc. Palavras iniciadas por h perdem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano,
subumanidade.
2. Com os prefi xos circum e pan, usa-se o
hífen diante de palavra iniciada por m, n e
vogal: circum-navegação, pan-americano etc.
3. O prefi xo co aglutina-se em geral com o
segundo elemento, mesmo quando este se
inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar,
cooperação, cooptar, coocupante etc.
4. Com o prefi xo vice, usa-se sempre o hífen:
vice-rei, vice-almirante etc.
5. Não se deve usar o hífen em certas palavras
que perderam a noção de composição, como
girassol, madressilva, mandachuva, pontapé,
paraquedas, paraquedista etc.
6. Com os prefi xos ex, sem, além, aquém,
recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen:
ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular,
pró-europeu.
Guia Reforma Ortografica uia CP.indd 31 10/7/2008 14:27:46
A Editora Melhoramentos, sempre preocupada em
auxiliar os estudantes brasileiros no seu aprendizado
e crescimento pessoal, lança o Guia Prático da Nova
Ortografi a, que mostra, de maneira clara e objetiva, as
alterações introduzidas na ortografi a do português pelo
Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa (1990).
A implantação das regras desse Acordo, prevista
para acontecer no Brasil a partir de janeiro de 2009, é
um passo importante em direção à criação de uma ortografi
a unifi cada para o português, a ser usada por todos
os países que tenham o português como língua ofi cial:
Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste.
Este guia não tem por objetivo elucidar pontos controversos
e subjetivos do Acordo, mas acreditamos que
será um valioso instrumento para o rápido entendimento
das mudanças na ortografi a da variante brasileira.
As dúvidas que porventura existirem após a leitura do
Guia Prático da Nova Ortografi a certamente serão resolvidas
com a publicação de um Vocabulário Ortográfi
co da Língua Portuguesa (VOLP), como está previsto
no Acordo.
Editora Melhoramentos
Agosto de 2008
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